Protagonistas de Gaiola

“So, so you think you can tell
Heaven from Hell,
Blue skies from pain.
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?
And did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
And did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?”
Pink Floyd, Wish you Were Here
Sair do Facebook. Alguém tem a coragem? Deixar de ter visibilidade, alcance, abandonar canal para ventilar frustrações e, por que não dizê-lo, destilar a raiva? O Facebook transformou-se na rede da raiva, a rede da ignorância, a rede das opiniões sem fundamento, a rede dos achismos.
As redes sociais são o local onde é preciso aturar o inferno, os outros. O inferno são os outros, trancados na sala virtual, sem janelas. Bajulam-se, entretêm-se, xingam-se, o Huis Clos tecnológico. Herois e fantasmas confundem-se, as cinzas do pensamento rasteiro se sobrepõem às árvores da razão. O pensamento rasteiro tribaliza, os dedos nervosos não dão espaço para que os mecanismos reflexivos do cérebro imponham-se aos mecanismos mais primitivos, ao lagarto interior.
Ninguém se dá conta de como são parecidos os vitupérios anti-PT e pró-PT, ninguém presta atenção no conteúdo de uma mensagem de ódio e revolta, desde que o ódio e a revolta sejam expressos por palavras condizentes com a visão de mundo de cada um. Palavras que trazem à tona o viés escondido. Esquerdopata! Direitopata! E, assim segue, dia sim, outro também.
Moro nos EUA. Escrevi livro sobre a Dilma. Virou best-seller. Não tenho qualquer apreço por ela, a Dilma, não porque a conheça, mas porque deixou o Brasil em estado de calamidade econômica por pura ignorância, soberba, e autoritarismo. Não gosto de Donald Trump, não porque o conheça, mas porque sua retórica é jurássica, autoritária, e ignorante. Para uns, quem não gosta de Dilma é do bem. Para outros, quem gosta de Trump é do bem. Uns e outros não são os mesmos, assim como as premissas “não gostar de Dilma” e “gostar de Trump” não são as mesmas. Contudo, para um grupo incompreensível de pessoas, “não gostar de Trump” é afronta tão grande quanto afirmar “eu gosto de Dilma”. Contorcem seu próprio pensamento, valem-se de qualquer subterfúgio Facebookiano para atacar a opinião dissonante. A recíproca também é verdadeira – todas as permutações, aliás, são verdadeiras.
São os protagonistas de suas próprias gaiolas. A partir de hoje passo a observá-los desse subsolo.